Em memória de Giordani Rodrigues
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Linux, Unix, BSD
Quarta - 25 de Abril de 2007 às 12:32
Por: Luiz Celso

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Muitas companhias têm procurado alternativas para o Windows em seu ambiente de trabalho, especialmente aquelas que fujam ao Vista – já que não são poucas as demandas do sistema operacional sobre hardware, custos de atualização e restrições de licenças. Depois de testar o Mac OS X no ambiente corporativo, a editora online do COMPUTERWORLD nos Estados Unidos, Sharon Machlis, analisou o Enterprise Desktop 10+, Suse Linux da Novell.

Depois de várias semanas, Sharon aponta que o Linux no desktop parece estar pronto para usuários domésticos não muito exigentes. Mas as coisas se complicaram um pouco para os usuários corporativos, diz ela.

Se as necessidades do usuário estão, sobretudo, em e-mails, navegação web, processamento de palavras e planilhas, as distribuições Linux, como Suse e Ubuntu, estão ótimas mesmo no ambiente de trabalho. No entanto, se o usuário em questão for um grande entusiasta da tecnologia, com certeza terá interesse e habilidade para superar os obstáculos não suportados e mergulhar em cada gota do kernel. Confira a seguir as principais impressões da jornalista sobre o sistema.

Primeiras impressões
“Depois de anos utilizando o Windows XP, é um tanto quanto engraçado ver algo novo no desktop”, relata. Sua primeira tarefa foi instalar o Suse Linux Enterprise Desktop em uma máquina Dell antiga – 40 GB de disco rígido e menos de 800 MB de memória RAM – e conectá-la à infra-estrutura do escritório. Para Sharon, a instalação foi fácil: apenas colocar o CD, concordar com alguns procedimentos, clicar no botão “próximo” várias vezes e, finalmente, chegar ao ponto de instalação. No teste foi selecionado o GNOME como interface de desktop.

Em menos de uma hora, Sharon aponta que se convenceu de que o Linux é de fato a plataforma que consegue extrair o máximo do hardware. “Eu preferiria uma máquina mais rápida, quem não iria preferir? Mas o sistema está apto para realizar os trabalhos que realmente preciso fazer hoje”, comenta.

O Suse Linux fora da caixa é unido a várias aplicações, incluindo uma versão da suíte OpenOffice e softwares para ler arquivos em Adobe PDF, Flash e RealMedia. Existem vários navegadores de internet e editores de texto, correio Evolution, da Novell, calendário e pacotes colaborativos, além de aplicações pré-carregadas como a solução Gaim, de mensagens instantâneas.

Ao contrário de várias aplicações incluídas nos sistemas Windows, estas não parecem vir com anúncios publicitários de abertura instantânea, como o pop-up anti-spyware – e, diga-se de passagem, irritante! – da Trend Micro.

O básico funciona bem imediatamente. Se o usuário tem uma conexão à rede, pode imprimir, surfar na web utilizando um dos navegadores, acessar arquivos de um drive de rede e importar os marcadores do Firefox. Embora Sharon não tenha conseguido uma versão do Notes para Linux, conseguiu ter acesso ao e-mail e ao calendário via internet.

“Várias pessoas pararam na minha mesa durante o primeiro dia de trabalho e perguntaram: como é o Linux? Eu, um tanto embaraçada, primeiro corava e dizia: é bem parecido com o Windows, mas com mais aplicações gratuitas e mais acesso às linhas de comando”, conta, embora enfatize depois da experiência que as diferenças vão muito além disso.

O trabalho com a web foi razoavelmente bem. Um dos melhores aspectos esteve no fato de o Firefox trabalhar bem com TeamSite, sistema de gerenciamento de conteúdo da Interwoven utilizado pelo CW americano para publicações.

A executiva também baixou uma planilha de teste do Google Docs para o OpenOffice, e ela funcionou sem falhas. Depois de algumas horas, Sharon disse estar convencida de que o teste de Linux não seria árduo, e que ela deveria ser mais uma defensora do Linux no ambiente de trabalho sem reservas.

A realidade não é bem assim...
No terceiro dia, Sharon descobriu a primeira aplicação da qual sentiria falta desesperadamente: a NoteTab Pro, editor baratinho de texto HTML utilizado há anos. Ela tem um menu elegante com comandos de um clique para tudo a partir de etiquetas HTML e links para mudança de textos, união de linhas, aspas e correção de ortografia.

“Estou ciente de que existem editores de textos mais puros por aí, mas a interseção de funções que o NoteTab oferece é tudo o que eu preciso no meu trabalho. Quando eu testei um documento do Word no OpenOffice, vi que ele funcionava bem e que eu poderia fazer alguns comandos de edição por ali. Mas sem o NoteTab, não tenho uma forma automatizada de extrair a formação do Word e adicionar os códigos HTML que desejo”, relata.

Segundo ela, uma máquina virtual de Windows rodando no seu sistema permitiria a execução do NoteTab. Mas no teste, porém, a idéia seria viver totalmente em ambiente Linux, evitando os custos de um segundo sistema operacional.

Diante do dilema, a diretora recorreu ao CrossOver Linux Professional, da CodeWeavers, que permite a execução de softwares para Windows em Linux sem necessitar de licenças ou instalação do sistema operacional da Microsoft. O CrossOver é baseado no projeto de código aberto Wine e promete executar programas Windows baseados no Windows Application Programming Interface.

Sharon chegou a comemorar quanto o NoteTab Light, versão aberta do NoteTab, pareceu funcionar bem, mesmo sem que o programa fosse listado entre aqueles oficialmente suportados pelo CrossOver. “Foi especialmente empolgante quando vi na tela a mensagem: ‘simulando reinício do Window”, diz.

Por outro lado, a versão profissional mais robusta, nem sequer abre. E a light pareceu um tanto frágil quando tentei adicionar meus scripts. Existem outras falhas pequenas irritantes. Na maior parte das vezes, não houve opção para salvar durante o trabalho em um documento. Também existiram falhas de tempos em tempos quando tentei posicionar meu cursor em um documento e clicar em “selecionar tudo”.

A partir de então, começou a jornada da executiva em busca de um editor de texto para HTML. O Komodo Edit, da ActiveState, prometia boas coisas, e tinha macros graváveis e também programáveis. O ponto fraco? Destinado aos desenvolvedores, não jornalistas, e não incluía funcionalidades necessárias como checagem de grafia.

O Kate, editor de texto incluído no Suse Linux desktop, era uma possibilidade, já que muitas das funções do NoteTab utilizadas para economizar tempo – como união de linhas e mudança de boxes de textos – estavam presentes. A executiva terminou a edição de seu documento codificando todas as marcas do parágrafo à mão, já que não teve paciência para descobrir como fazer o procedimento em Linux e executar múltiplos comandos de procurar e substituir.

“Isso não quer dizer que eu não poderia levantar e tentar outro editor de texto com novas macros. Mas isso exigiria uma investimento em um recurso raro nas redações atualmente: o tempo. Mas está claro que se tivéssemos que sair do Windows para Linux, alguns usuários teriam a produtividade afetada até que estivesse claro como otimizar tarefas já automatizadas nas plataformas anteriores”, diz.

Outras aplicações em falta
Inicialmente a saudade de Sharon tinha a ver apenas com a NoteTab. No entanto, rapidamente descobriu que outros pacotes de software também faziam falta, como o Adobe Photoshop Elements com suas funcionalidades específicas, elementos não encontrados por ela em Linux ou não suportados pela CrossOver – embora a fabricante diga que tem habilidades para o Photoshop 6.

A instalação Suse designada para o teste incluía um pacote para tratamento de imagens chamado GIMP (GNU Image Manipulation Program), mas a executiva sentiu diferenças notáveis em relação às interfaces. Sharon conta que passou mais de 10 horas treinando os Elements do Photoshop, aprendendo o que fazer na ferramenta. E naquele momento do teste, não estava certa se queria passar novamente por dose semelhante para aprender as funcionalidades do GIMP.

Além disso, o iTunes, que não é propriamente uma aplicação de trabalho, mas agrada os funcionários em determinadas horas do dia, também não atingiu resultado satisfatório. “Instalei iTunes com o CrossOver, mas ele suporta a versão 4.9 e recomenda atualização. Também não consegui acessar a loja do iTunes”, ressalta. Hoje, a última versão para Windows é a 7.0.2 do iTunes, o que exigiria várias seqüências de atualizações para a versão de Linux, 4.9.

Por último, a executiva relata que sentiu bastante falta da Adobe InCopy, software para edições impressas disponíveis apenas para Windows ou Mac. Com utilização ao menos semanal, não tê-la representou um problema. Fora isso, a falta de sincronização com o Palm T/X no desktop foi outro desafio. Parecia que ia funcionar, diz a executiva, ao passo que incluía uma aplicação justamente para aquele fim – chamada Gnome Pilot -, mas não deu certo.

“Aqui está um exemplo de como usuários de nível intermediário podem se frustrar com o Linux algumas vezes. É provável que nesta fase tenhamos equipamentos e aplicações adicionais além das configurações padrão, ao mesmo tempo em que não sabemos o que fazer para executar aquilo que os fornecedores não suportam oficialmente”, comenta.

O(s) lado(s) positivo(s)
Algumas outras coisas mostraram durante a semana de trabalho de Sharon que o Linux é um sistema operacional destinado a usuários sérios. Um exemplo foi encontrado no fato de que Sharon conseguiu acessar facilmente as pastas no drive de rede a partir do sistema operacional aberto, e movê-las do sistema Windows para a caixa de Linux em teste. Escrever códigos e códigos de comando não foi necessário. Arrastar e colar foi o suficiente.

A executiva aponta também que executar um arquivo MP3 é tão fácil como clicar sobre ele e abrir o RealPlayer para Linux. No entanto, assistir a um trailer de filme na internet – o que pode ser feito em um clique no Windows – pareceu um tanto mais complicado, já que existem muitos no formato QuickTime, da Apple, e a companhia não fornece diretamente um reprodutor ou plug-in da ferramenta para Firefox no Linux.

“Mas uma das coisas que eu não sinto falta no Linux de jeito nenhum são os balões do Windows me perturbando sobre as atualizações que eu não estou interessada em instalar!”, complementa, dizendo ainda que quando o plug-and-play do Linux funciona, é uma experiência agradável.

A executiva, uma entusiasta de planilhas, também se surpreendeu com a versão da Novell para o OpenOffice Calc, especialmente no que diz respeito à formatação. Isso é importante principalmente porque ela extrai várias vezes por semana relatórios a partir de websites e não preciso cortar e colar colunas individuais.

A peça final do quebra-cabeça
Quando a versão para Linux do Notes chegou às mãos da executiva, a experiência se tornou mais prazerosa. Ela conseguiu enviar e receber e-mails, acessar o calendário, agendar reuniões e utilizar várias bases de dados da redação equipadas com o Notes. O único problema foi a vagareza, trazida pelo hardware quase primitivo da executiva.

“Basicamente, eu esperava ser uma garota propaganda para a próxima onda de usuários de Linux no desktop. Eu quis ser. Gosto da idéia de ter um sistema operacional de código aberto, que não presume que todos nós precisamos ser protegidos dos trabalhos de outros. Não temo linhas de comando e gosto de viajar pelo mundo da programação”, ressalta.

No entanto, Sharon alerta que ainda é um desafio para o usuário intermediário utilizar exclusivamente aplicações abertas no desktop. Isso porque boa parte do trabalho pode ser comprometida por tempo de adaptação às novas plataformas ou mesmo porque suas aplicações não rodam.

“Eu provavelmente poderia lidar com essas questões de aplicações que não rodam em Linux utilizando uma máquina virtual de Windows”, enfatiza. De qualquer forma, a executiva considera a experiência positiva. “Gostei tanto que vou manter o Linux no meu desktop”, conclui.


Fonte: COMPUTERWORLD




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