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Linux, Unix, BSD
Quarta - 05 de Maio de 2004 às 10:27
Por: Observador

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Este artigo descreve as experiências que venho tendo durante o processo de migração da rede da empresa que trabalho para software livre. As soluções adotadas, vantagens e problemas enfrentados aqui citados podem ser de grande valia para você que também deseja migrar sua rede.

Por: Luiz Noal

Panorama


A direção da empresa em que trabalho resolveu migrar para o software livre e no início do ano 2003 formou uma equipe de suporte à migração formada por 5 pessoas da própria empresa, nas quais me incluo, (alguns de nós nunca haviam visto o Linux e eu ainda acredito que tenho pouca experiência). Entre nossas atribuições estão:
-- Analisar a situação particular de cada um dos setores da empresa;
-- Encontrar uma solução open source;
-- Implementar a solução;
-- Treinar usuários;
e resolver problemas com o software legado (nosso maior problema).

Possuímos, em rede, cerca de 65 computadores dos tipos mais variados, incluindo laptops e ainda há o problema da qualidade do hardware que na maioria das máquinas é questionável, tipo K6-II 500 com 64 MB RAM, muitas placas SIS e PC-Chips, placas de rede 10/10, coisas onboard, cada hub de uma marca diferente, bem Brasil mesmo.

A empresa está dividida em grupos de trabalho (setores) com características próprias bem definidas e cada qual ocupando uma sala ou área física distinta e possuindo seu hub próprio, tipo: Setor de Pessoal, Setor de Finanças, Almoxarifado, Setor de transportes e etc.

Rodava-se Windows de todo o tipo, bancos de dados em Clipper, MS-Access, Interbase, compactava-se arquivo com WinZip, WinRar, WinARJ (causou problema no momento de acessar back-ups com o ark do KDE), aplicações em Visual Basic, Delphi, Oracle, documentos de texto eram feitos em uma enorme variedade de offices, enfim, em cada máquina e em cada setor uma história diferente.

Divisão do trabalho e linha de ação

Divisão do trabalho:
Somos 5 pessoas, logo, dividimos o trabalho em 5 áreas:
-- Servidores, segurança e infraestrutura de rede;
-- Treinamento e instrução de usuários;
-- Preparação do hardware e instalação do sistema operacional;
-- Pesquisa, instalação, padronização e configuração de aplicativos (a parte que me toca);
-- Manutenção e ajuda à usuários que já migraram e necessitam de apoio (e como necessitam).

Mas apesar de divididos por funções, não somos estanques, ajudamos uns aos outros sempre.

Linhas de ação:

1 - Instalamos o OpenOffice.org sob o ambiente Windows, em todas as máquinas passíveis de rodá-lo.

2 - Mantivemos os Offices MS e Open instalados simultaneamente nas máquinas por no mínimo 6 meses para que os usuários se habituassem ao OpenOffice.org.

3 - Estudamos o OpenOffice.org e ministramos aulas de OpenOffice de uma hora de duração às Segundas-feiras durante algum tempo.

4 - Anotamos dúvidas, pesquisamos e ensinamos desde 2003.
Definimos como hardware mínimo o K6-II 300 com 32 MB RAM, sem HD, 1 MB vídeo, e placa de rede RTL8129, o resto foi....

5 - Escolhemos a melhor máquina de cada setor para ser um servidor de terminais leves, algo como Duron 700, 256 MB, 20 GB (com vídeo off-board se possível) ou superior.

6 - Como a maioria do nosso hardware é modesto, optamos pelo Linux Kurumin 2.x, que detecta e pré-configura quase todo o tipo de hardware usado no Brasil.

7 - Montamos um calendário de migração e o divulgamos.
Removemos o MS-Office de cada uma das máquinas (houve choro e ranger de dentes).

8 - Como o uso do OpenOffice.org já estava disseminado no ambiente Windows, cuja interface é a mesma sob o Linux, começamos a ensinar a operação básica do KDE (abrir arquivos, navegar na internet, escolher uma impressora da rede, onde encontrar o OpenOffice) para grupos pequenos, cerca de duas ou três aulas práticas.

9 - Em fevereiro de 2004 instalamos o primeiro Linux Terminal Server com Kurumin e OpenOffice.org.

10 - Cada servidor de terminas dos vários setores possui cerca de 4 terminais leves pendurados nele.

11 - Estamos substituindo os bancos de dados variados por MySQL com PHP via web browser.

12 - Aplicativos web serão nossa base, pretendemos que apenas o OpenOffice e poucos programas rodem localmente, a grande maioria será via rede interna, isto facilita atualizações e modificações.

13 - Enquanto não encontrarmos solução para todos os softwares legados, manteremos um servidor W2K para que uns poucos usuários tenham, remotamente, acesso aos aplicativos ainda não migrados.

14 - Pretendemos definir o padrão tar.gz para todo o tipo de arquivo compactado, assim como padronizar outros procedimentos gradativamente.

Maiores problemas encontrados

A - Aplicativos CA-Clipper, sem suporte a rede, ficam instáveis rodando no W2K e sendo acessados de um terminal Linux.

B - Aplicativos MS-Access que devem gerar arquivos de remessa para serem enviados à matriz não compreendem que estão rodando um W2K e acessados por uma rede Linux não enxergando o disco local, iniciando a geração de dados no disco do servidor 2K, mas depois perdendo informação.

C - O wine nem sempre supre nossas necessidades com aplicações legadas e ainda não substituídas por software livre devido à imposições da matriz, como no caso de informações geradas em um arquivo de formato proprietário produzidas por um aplicativo desenvolvido em VB ou outra linguagem qualquer mas compilado em Windows.

D - Usuários que insistem em aproveitar documentos feitos no MS-Office (sem convertê-lo) ou que os recebem via e-mail, com o uso de algumas fontes ou macros em VB geram transtornos no OpenOffice.
Suspeitamos que arquivos .doc recebidos via e-mail e contaminados com vírus de macro do MS-Word, embora não causem dano ao OpenOffice do sistema, podem estar causando travamento no OpenOffice do usuário (instalação tipo net). Posso estar muito enganado e ainda não sei.
Resistência cultural ao Linux, pois coisas que os usuários faziam como instalar seu joguinho preferido, ouvir uma musiquinha no CD-ROM, não pode mais ser feito pois senhas root não foram divulgadas e o som foi desabilitado para liberar memória aos terminais.

E - Usuários com mais idade não gostam de se adaptar a coisas novas e sempre solicitam a instalação de algo impossível e que antes tinham no Windows, como aquele ícone daquela cor ou algo assim.

F - Certos tipos de placas de vídeo, SIS ou Trident muito antigas, geram fontes (para aplicativos não KDE) extremamente pequenas quando rodando no terminal do Kurumin e para aumentar tal fonte é necessário editar os arquivos de configuração do LTSP dos terminais o que torna as fontes dos demais terminais muito grandes.

G - Nem todo o hardware antigo que roda bem com Windows 95/98, rodará bem com Linux, é necessário fazer testes antes.

H - Necessidade de uma boa porta de acesso à internet para download de quase 600 MB em atualizações do Kurumin entre suporte a JAVA, OpenOffice, Terminal Server, TS Client, MySQL, unixODBC entre outros.

Vantagens

1 - Economia, no nosso caso, de +/- R$ 65.000,00 por ano em licenças.
Acabamos com os malditos vírus que infestam o Windows.

2 - Quase total controle do sistema por parte dos administradores de rede (TS-Client + SSH + senhas).

3 - O uso de terminais permite que, em se melhorando uma máquina, o servidor de terminais, sejam melhoradas todas as demais máquinas à ela conectadas.

4 - Privacidade e controle de acesso real para usuários que trabalham em discos virtuais ou diretórios compartilhados, já que existem os níveis de segurança por usuário e não apenas por compartilhamento.

5 - O Kurumin explica passo a passo na instalação, como montar um servidor de terminais e vem totalmente pré-configurado (embora eu utilize o Fedora, o Kurumin é bom), basta ler com atenção o menu do KDE.

6 - Um usuário desavisado não poderá instalar aquele programinha bom (mas pirata) que poderia causar futuros transtornos jurídicos à empresa.

Atualmente, Abril 2004, estamos com 60% da migração concluída e viva o Linux.


Fonte: VivaOLinux




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