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Linux: paixão ou oportunidade?
As parcerias fechadas recentemente pela Microsoft com distribuidores de soluções de código aberto como Linspire e Xandros, depois daquela firmada com a Novell no ano passado, representaram mais um golpe para a comunidade de software livre.
Isso porque, conforme era previsto diante do primeiro acordo, as fronteiras ideológicas que tradicionalmente afastavam as duas tecnologias estão se estreitando, o que, para os apaixonados pelo código aberto, não pode ser visto com bons olhos. Seria como “se render ao inimigo”, conforme apontaram diversos comentários publicados em blogs desde que as novas parcerias foram firmadas.
Mas, se por um lado a aproximação decepciona aqueles que jamais imaginavam que companhias com perfis e missões tão diferentes se aproximariam de forma tênue, por outro, essas mesmas empresas e seus clientes corporativos não poderiam viver um momento tão favorável na avaliação de analistas. Seriam as oportunidades predominando sobre a paixão.
De acordo com Laura DiDio, analista sênior e líder de pesquisa do Yankee Group, para as companhias que fecharam acordo até o momento, não há nada a perder. Aliás, muito pelo contrário. Esse tipo de aproximação, segundo ela, faz com que as soluções abertas, que muitas vezes recebiam cara feita de grandes clientes corporativos por não apresentarem níveis desejáveis de suporte, passem a ser mais aceitáveis e mesmo atraentes.
“CEOs, CIOs e CTOs tendem a basear suas decisões de investimento sobre aquilo que é mais competitivo e que tende a custar menos para a empresa. E isso não significa apenas gastos com licenças, mas o custo total de propriedade (TCO) em si e também o trabalho que será demandado para integrar com suas soluções existentes. Quando mais uma solução conversar com sistemas já implantados da Microsoft, Apple ou mesmo Linux, mais competitiva ela tende a ser”, assinala.
No acordo com a Novell, a Microsoft se comprometeu a pagar milhares de dólares em taxas de licenciamento, além de arcar com os custos de vendas e marketing pelos próximos cinco anos, o que inclui 240 milhões de dólares para os certificados de assinatura do Suse Linux Enterprise. Por sua vez, a Novell se comprometeu a pagar à gigante de software uma porcentagem da receita gerada com a venda dos produtos de código aberto. As duas companhias afirmam que o acordo vai ajudar a estimular a adoção de Linux no mercado corporativo ao promover a interoperabilidade entre as duas plataformas.
A parceria com a Xandros – que oferece versões do Linux para desktop e servidores –, segue modelos semelhantes daquela estabelecida com a Novell, com licenciamento de patentes e colaboração. Conforme detalhou Bob Muglia, vice-presidente de Servidores e Ferramentas de Negócios da Microsoft, no início do mês, a Xandros terá licença sobre a propriedade intelectual da Microsoft e assumiu “a posição de ajudar os clientes a garantir que quando usem software livre, que a propriedade intelectual que a indústria criou seja parte dele”.
Já a Linspire concordou em trabalhar com a Novell e a Microsoft para desenvolver um tradutor de código aberto para que usuários do Open Office e do Microsoft Office compartilhem documentos de forma mais simples. Além disso, a companhia também licenciou o codec RT de áudio da Microsoft para tornar seu comunicador Pidgin IM compatível com o Windows Live Messenger e outros produtos da companhia. Um quarto acordo firmado, mas não propriamente com distribuidora Linux, foi aquele fechado com a LG Electronics, em que a companhia deverá pagar à gigante de software pela proteção ao uso do sistema operacional de código aberto em seus dispositivos móveis.
Para a analista, além de aumentar a interoperabilidade dos sistemas, as distribuidoras de soluções abertas também têm lucrado financeiramente com as parcerias. “Em vez de isolar o Linux em virtude de uma ideologia, as companhias estão se movendo em favor de seus usuários e de seus negócios. A comunidade precisa perceber que o Linux não é mais o clubinho que era antes”, complementa.
Aliados de momento
Mas se a flexibilização das empresas de código aberto em assinar contratos com a Microsoft está baseada, entre outros fatores, nas oportunidades vindouras, para a gigante de software tem representado uma saída estratégica. Isso porque é inegável o crescimento que as soluções abertas têm apresentado nos últimos anos. Ainda de acordo com a executiva do Yankee Group, cerca de sete anos atrás, muitos executivos da companhia tratavam o Linux “como um câncer” e negavam que a tecnologia pudesse representar concorrência significativa para o Windows.
No entanto, vale lembrar que não é apenas de olho na ampliação da interoperabilidade de seus sistemas que a Microsoft está empenhada em conquistar as alianças. A companhia de Bill Gates já declarou publicamente que considera que o Linux infringe 235 de suas patentes e que poderá perseguir agressivamente royalties nos casos em que julgar necessário. O que significa que, nos casos que não conseguir resolver amigavelmente, ela poderá partir para a batalha judicial. O alvo? Os clientes das soluções abertas. Nos casos já mencionados – Novell, Xandros, Linspire e LG –, o acordo protege os usuários quanto a eventuais processos, o que levou boa parte da comunidade a acreditar que tais companhias estariam cedendo às pressões da Microsoft.
“Não sei quão ameaçadas essas empresas se sentem, mas não vejo nenhum mal em tentar proteger seus clientes atuais e futuros sobre eventuais disputas judiciais. Um acordo amigável geralmente é muito menos desgastante. Além disso, quem mais reclama desses acordos geralmente são os desenvolvedores do código aberto. Mas não são eles que serão processados caso a Microsoft leve o caso para o tribunal”, comenta Laura DiDio, do Yankee.
Mais próximos
... a era de manter a competição entre a Apple e a Microsoft está acabada, até onde eu sei. Isso tem a ver com [os esforços de] deixar a Apple mais saudável e torná-la mais apta a fazer contribuições incrivelmente boas para a indústria, fortalecê-la e deixá-la próspera. A frase – que faz parte do discurso do líder da companhia, Steve Jobs, datado de 1997 durante o evento Macworld, realizado em São Francisco (EUA) –, ilustra o momento em que a Apple decidiu deixar as rixas com a companhia de Bill Gates de lado e partir para aquilo que considerava mais valoroso: seu momento de inovação. Os resultados surgiram alguns anos depois com iPod, iTunes e agora, o mais novo iPhone.
O comentário de Jobs foi incorporado pelo CEO da Linspire, Kevin Carmony, para descrever a situação no território do código aberto. “Eu também acredito que esse é o momento para o Linux fazer a mesma coisa. Em vez de isolar o Linux, creio que precisamos entender, assim como fez a Apple em 1997, que ele existe em um ecossistema e precisa trabalhar com e dentro desse ecossistema. Por mais impopular que isso possa parecer, o Linspire está disposto a assumir a liderança nesse esforço”, escreveu em uma carta aberta à comunidade publicada em seu website.
A analista Laura DiDio acredita que essa deve ser mesmo a tendência para as companhias que apostam nas tecnologias abertas, já que alianças em prol da interoperabilidade servem como uma alavanca importante para a popularização dos produtos. Resta saber se, ou por quanto tempo, resistirão empresas como a Red Hat a esse tipo de acordo, que prometeu, nas palavras de Gabriel Szulik, gerente-geral da companhia para a América Latina, não “venderá a alma como a Novell”.
Fonte: COMPUTERWORLD
Isso porque, conforme era previsto diante do primeiro acordo, as fronteiras ideológicas que tradicionalmente afastavam as duas tecnologias estão se estreitando, o que, para os apaixonados pelo código aberto, não pode ser visto com bons olhos. Seria como “se render ao inimigo”, conforme apontaram diversos comentários publicados em blogs desde que as novas parcerias foram firmadas.
Mas, se por um lado a aproximação decepciona aqueles que jamais imaginavam que companhias com perfis e missões tão diferentes se aproximariam de forma tênue, por outro, essas mesmas empresas e seus clientes corporativos não poderiam viver um momento tão favorável na avaliação de analistas. Seriam as oportunidades predominando sobre a paixão.
De acordo com Laura DiDio, analista sênior e líder de pesquisa do Yankee Group, para as companhias que fecharam acordo até o momento, não há nada a perder. Aliás, muito pelo contrário. Esse tipo de aproximação, segundo ela, faz com que as soluções abertas, que muitas vezes recebiam cara feita de grandes clientes corporativos por não apresentarem níveis desejáveis de suporte, passem a ser mais aceitáveis e mesmo atraentes.
“CEOs, CIOs e CTOs tendem a basear suas decisões de investimento sobre aquilo que é mais competitivo e que tende a custar menos para a empresa. E isso não significa apenas gastos com licenças, mas o custo total de propriedade (TCO) em si e também o trabalho que será demandado para integrar com suas soluções existentes. Quando mais uma solução conversar com sistemas já implantados da Microsoft, Apple ou mesmo Linux, mais competitiva ela tende a ser”, assinala.
No acordo com a Novell, a Microsoft se comprometeu a pagar milhares de dólares em taxas de licenciamento, além de arcar com os custos de vendas e marketing pelos próximos cinco anos, o que inclui 240 milhões de dólares para os certificados de assinatura do Suse Linux Enterprise. Por sua vez, a Novell se comprometeu a pagar à gigante de software uma porcentagem da receita gerada com a venda dos produtos de código aberto. As duas companhias afirmam que o acordo vai ajudar a estimular a adoção de Linux no mercado corporativo ao promover a interoperabilidade entre as duas plataformas.
A parceria com a Xandros – que oferece versões do Linux para desktop e servidores –, segue modelos semelhantes daquela estabelecida com a Novell, com licenciamento de patentes e colaboração. Conforme detalhou Bob Muglia, vice-presidente de Servidores e Ferramentas de Negócios da Microsoft, no início do mês, a Xandros terá licença sobre a propriedade intelectual da Microsoft e assumiu “a posição de ajudar os clientes a garantir que quando usem software livre, que a propriedade intelectual que a indústria criou seja parte dele”.
Já a Linspire concordou em trabalhar com a Novell e a Microsoft para desenvolver um tradutor de código aberto para que usuários do Open Office e do Microsoft Office compartilhem documentos de forma mais simples. Além disso, a companhia também licenciou o codec RT de áudio da Microsoft para tornar seu comunicador Pidgin IM compatível com o Windows Live Messenger e outros produtos da companhia. Um quarto acordo firmado, mas não propriamente com distribuidora Linux, foi aquele fechado com a LG Electronics, em que a companhia deverá pagar à gigante de software pela proteção ao uso do sistema operacional de código aberto em seus dispositivos móveis.
Para a analista, além de aumentar a interoperabilidade dos sistemas, as distribuidoras de soluções abertas também têm lucrado financeiramente com as parcerias. “Em vez de isolar o Linux em virtude de uma ideologia, as companhias estão se movendo em favor de seus usuários e de seus negócios. A comunidade precisa perceber que o Linux não é mais o clubinho que era antes”, complementa.
Aliados de momento
Mas se a flexibilização das empresas de código aberto em assinar contratos com a Microsoft está baseada, entre outros fatores, nas oportunidades vindouras, para a gigante de software tem representado uma saída estratégica. Isso porque é inegável o crescimento que as soluções abertas têm apresentado nos últimos anos. Ainda de acordo com a executiva do Yankee Group, cerca de sete anos atrás, muitos executivos da companhia tratavam o Linux “como um câncer” e negavam que a tecnologia pudesse representar concorrência significativa para o Windows.
No entanto, vale lembrar que não é apenas de olho na ampliação da interoperabilidade de seus sistemas que a Microsoft está empenhada em conquistar as alianças. A companhia de Bill Gates já declarou publicamente que considera que o Linux infringe 235 de suas patentes e que poderá perseguir agressivamente royalties nos casos em que julgar necessário. O que significa que, nos casos que não conseguir resolver amigavelmente, ela poderá partir para a batalha judicial. O alvo? Os clientes das soluções abertas. Nos casos já mencionados – Novell, Xandros, Linspire e LG –, o acordo protege os usuários quanto a eventuais processos, o que levou boa parte da comunidade a acreditar que tais companhias estariam cedendo às pressões da Microsoft.
“Não sei quão ameaçadas essas empresas se sentem, mas não vejo nenhum mal em tentar proteger seus clientes atuais e futuros sobre eventuais disputas judiciais. Um acordo amigável geralmente é muito menos desgastante. Além disso, quem mais reclama desses acordos geralmente são os desenvolvedores do código aberto. Mas não são eles que serão processados caso a Microsoft leve o caso para o tribunal”, comenta Laura DiDio, do Yankee.
Mais próximos
... a era de manter a competição entre a Apple e a Microsoft está acabada, até onde eu sei. Isso tem a ver com [os esforços de] deixar a Apple mais saudável e torná-la mais apta a fazer contribuições incrivelmente boas para a indústria, fortalecê-la e deixá-la próspera. A frase – que faz parte do discurso do líder da companhia, Steve Jobs, datado de 1997 durante o evento Macworld, realizado em São Francisco (EUA) –, ilustra o momento em que a Apple decidiu deixar as rixas com a companhia de Bill Gates de lado e partir para aquilo que considerava mais valoroso: seu momento de inovação. Os resultados surgiram alguns anos depois com iPod, iTunes e agora, o mais novo iPhone.
O comentário de Jobs foi incorporado pelo CEO da Linspire, Kevin Carmony, para descrever a situação no território do código aberto. “Eu também acredito que esse é o momento para o Linux fazer a mesma coisa. Em vez de isolar o Linux, creio que precisamos entender, assim como fez a Apple em 1997, que ele existe em um ecossistema e precisa trabalhar com e dentro desse ecossistema. Por mais impopular que isso possa parecer, o Linspire está disposto a assumir a liderança nesse esforço”, escreveu em uma carta aberta à comunidade publicada em seu website.
A analista Laura DiDio acredita que essa deve ser mesmo a tendência para as companhias que apostam nas tecnologias abertas, já que alianças em prol da interoperabilidade servem como uma alavanca importante para a popularização dos produtos. Resta saber se, ou por quanto tempo, resistirão empresas como a Red Hat a esse tipo de acordo, que prometeu, nas palavras de Gabriel Szulik, gerente-geral da companhia para a América Latina, não “venderá a alma como a Novell”.
Fonte: COMPUTERWORLD
URL Fonte: https://infoguerra.com.br/noticia/1871/visualizar/
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